TRACE TALKS com Tatiana Fiuza

Falar sobre inovação com Tatiana Fiuza é uma aula. Há mais de 18 anos, ela atua com ciência, tecnologia e inovação. Atualmente, é head de inovação do hub Cocriagro e, também, founder da consultoria Vlinder. Este ano foi indicada na lista da Forbes entre as 20 mulheres que atuam no Brasil com inovação e agtechs. Para discutir inovação, empreendedorismo e machismo no ambiente de startups, Tatiana Fiuza é a entrevistada do Trace Talks deste mês.

Trace Talks: Como é falar ou discutir inovação em um país como o Brasil?

Chegamos em um momento em que grande parte das empresas já entendeu que inovar é importante. Acredite, ainda tem gente que está em processo. 

O Brasil tem uma particularidade que é os baixos números de interação universidade-empresa. Além disso, boa parte das empresas ainda é insegura com o risco da inovação – mesmo entendendo seus benefícios.

De 2015 para cá tivemos grandes avanços no tema inovação aberta e muitas ações têm sido realizadas nesse sentido. Mas, ainda temos poucas empresas que estruturam ações para ter as atividades de inovação de maneira sistematizada. 

Trace Talks: Quais as principais barreiras que um empreendedor tem na hora de inovar?

Não sei se a palavra certa seria barreiras porque há uma série de maneiras para inovar… na minha visão, basta querer. Agora, há alguns desafios a serem vencidos. Um sistema de inovação precisa de investimentos e muitas empresas ainda olham esses projetos como despesa. 

Inovar é risco – um desafio está em estabelecer até onde você quer correr o risco. Outro desafio é criar o sistema de gestão da inovação. Não fazer uma ação isolada, mas criar processos e iniciativas que possam sempre abastecer o funil de inovação. 

Trace Talks: Nascemos ou ‘viramos’ empreendedores?

Viramos. Empreendedorismo não é dom. É estudo e trabalho. Tem muito empresário que não é empreendedor e tem muito empreendedor que não é dono de empresa. 

Trace Talks: Como você vê o ecossistema de inovação para mulheres?

Ainda há um espaço a ser ocupado. Temos avançado, mas ainda somos poucas como gestoras de inovação ou à frente de startups. Não há uma formação específica para atuar com inovação – o que leva as pessoas a não pensarem nessa carreira ainda na graduação.

Há muita oportunidade de trabalho nesse setor. Precisamos ocupar mais esses espaços.  

Trace Talks: Quais situações de machismo você já vivenciou nesse ambiente de startups?

Todo dia tem uma situação, né? Infelizmente. Mas, me lembro uma vez que eu estava numa reunião com vários homens e um deles olhou pra mim e disse: desculpa, vou contar uma piada machista. Logo eu respondi: não conte não, são 10 hs da manhã e eu estou trabalhando. Ele contou a piada e, claro, ninguém riu. Logo mudaram de assunto…

Esse foi um fato, dentro de muitos e rotineiros, infelizmente.   

Trace Talks: De que forma startups podem ser aliadas em estratégias de combate ao machismo?

Há uma série de startups que atuam com esse tema ou temas correlatos. Essa pauta já está na mesa a ser debatida. 

Acho que o grande ponto é uma mulher olhar e saber que, se ela quiser, ela também pode ter uma startup. Como uma opção de carreira profissional, sabe?

Trace Talks: O agronegócio tenta se estabelecer como um setor que está pautado nas necessidades ambientais, sociais e de governança. Nesse sentido, como as agtechs podem ser a chave para esse processo?

A pauta da sustentabilidade não é mais um modismo, é algo que se tornou estratégico para os negócios. Todos eles, inclusive, o agro. 

Startups podem ajudar e muito nessa estratégia, pois quando você absorve tecnologia, você otimiza uma série de atividades. Como por exemplo, uso de maquinário, ou de defensivos. A tecnologia te ajuda a controlar melhor o solo e prever problemas… ou seja, as startup têm muito a contribuir com essa agenda. 

Basta o produtor estar disposto a testar soluções. 

Trace Talks: Por último, o que é inovação?

Daria para escrever uma tese de doutorado para responder essa pergunta, mas tenho usado muito o conceito que a nova ISO 56000 traz de inovação. Inovação é uma entidade nova ou alterada que realiza ou redistribui valor. Sabemos que a Inovação é resultado. E o valor percebido depende do olhar da organização. Além disso, a ISO 56000 complementa que a inovação pode ser um produto, serviço, processo, modelo ou método. 

Redação e Conteúdo: César H.S Rezende

Arte: Luana Jardim

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